Bem-Estar para a Mente

Os clubes associativos podem ser um oásis de qualidade de vida.

Em um mundo cada vez mais pautado pela conectividade digital e pela correria do dia a dia, a busca por espaços de convívio presencial e de qualidade de vida tem se tornado essencial para a saúde mental. Nesse cenário, os clubes associativos emergem como ambientes privilegiados, onde as relações humanas florescem, a atividade física se integra ao lazer e o senso de pertencimento fortalece o bem-estar emocional.

A neurocientista Rafaela Ribeiro, Coordenadora do Centro de Diagnóstico Neuropsicológico da Unifesp, ressalta a importância das interações sociais: “As interações humanas são fundamentais para o equilíbrio emocional, pois permitem o compartilhamento de experiências, o apoio mútuo e a construção de um senso de pertencimento”. Ela enfatiza que os clubes, ao oferecerem um espaço de convivência regular, propiciam a formação de laços sociais significativos, combatendo a solidão e o isolamento, especialmente na terceira idade.

O Poder das Relações e o Suporte Social

A “Pesquisa da Felicidade de Harvard” (Harvard Study of Adult Development), um dos estudos mais longos sobre a vida humana, corrobora essa visão. Iniciada em 1938, a pesquisa aponta que relacionamentos de qualidade são o fator mais importante para uma vida feliz e saudável. Pessoas mais solitárias, por outro lado, tendem a ter mais problemas de saúde física e mental e vivem menos. Mariana Bendlin Calzavara, psiquiatra e doutora em Psicofarmacologia pela Unifesp, complementa: “Nós crescemos como indivíduos por meio das relações sociais. A cada etapa de vida, é por meio das relações sociais que a gente se conhece, a gente conhece o outro, a gente se individualiza. A gente cria a nossa identidade e a nossa autonomia”.

Para a Dra. Mariana, as relações sociais são cruciais na prevenção de quadros de depressão, tanto em indivíduos saudáveis quanto nos predispostos. Em casos de depressão já estabelecida, o suporte social auxilia na prevenção de comportamentos suicidas. Ela ainda destaca que manter relações sociais é um dos pilares da longevidade, trazendo segurança, conforto e acolhimento.

Atividade Física: Corpo em Movimento, Mente em Equilíbrio

Além do incentivo às relações, os clubes associativos são celeiros de atividades físicas, um componente vital para a saúde mental. Rafaela explica que a prática regular de exercícios está diretamente associada à liberação de endorfinas, hormônios que promovem a sensação de bem-estar. “Em um clube, essa prática se torna mais prazerosa quando realizada em grupo, com estímulo mútuo e espírito de comunidade”, pontua.

O Professor Vinicius Estrela, professor de yoga e ginástica fitness no Ipê, reforça a posição das profissionais. “Sabemos que a prática regular de exercícios estimula a liberação de hormônios, regula o sono, melhora a disposição e tem efeitos diretos na redução dos sintomas de ansiedade e depressão”. Ele ressalta que a prática em grupo potencializa esses benefícios, transformando a atividade física em uma rotina prazerosa e duradoura. Mariana acrescenta que artigos recentes mostram que fazer exercício físico em grupo potencializa a liberação de neurotransmissores relacionados ao bem-estar, como serotonina e dopamina.

O Círculo Virtuoso da Positividade

Um aspecto interessante abordado pela neurociência, segundo Mariana, é o impacto da mentalidade positiva na saúde cerebral. Reclamar, por exemplo, fortalece vias neurais negativas, enviesando a percepção do mundo. O oposto também é verdadeiro: reforçar o positivo diminui a ativação de áreas de aversão no cérebro. “Se eu convivo com alguém que reclama muito, a minha tendência também é ter esse olhar da mesma forma. O bem-estar mental é que a gente deixe essas vias de aversão de medo menos ativas”, explica. A psiquiatra ainda menciona a importância dos neurônios-espelho, que nos levam a replicar comportamentos do nosso entorno, reforçando a importância de ambientes e convívios positivos.

Depoimentos que inspiram

A vivência nos clubes associativos é confirmada por seus frequentadores. Marta Keppler, de 67 anos, associada há 42 anos, relata como o clube se tornou uma extensão de sua família. “Logo já achei minha turma da ginástica, pois já tinha uma turminha da piscina. Para mim, esse convívio é fundamental, pois a ginástica consegue reunir pessoas de diferentes idades com as quais podemos trocar nossas experiências de uma maneira riquíssima e sempre com muita diversão. Meu grupo de convívio virou quase uma família e convivemos quase que diariamente no clube e muitas vezes fora também.”

Marta destaca o impacto das atividades físicas em seu humor: “A prática de atividades físicas influencia 100% o meu humor. Saio muito revigorada, se havia algum problema antes, nem me lembro mais! E também tenho muito orgulho de mandar bem nesta aula que exige muita energia, coordenação e condicionamento com os meus 67 anos!”. Ela ainda valoriza os momentos de socialização, como o “café pós-aula de step”, onde alegrias e tristezas são compartilhadas com muito riso.

Outro depoimento inspirador é o de Evandra Spilotro, associada do Ipê Clube há 51 anos, que destaca a importância da convivência e das atividades oferecidas pelo clube em sua recuperação física e emocional. Após enfrentar cirurgias na coluna, encontrou no yoga e na meditação — práticas que já realizava há mais de 10 anos — uma forma de retomar o equilíbrio físico e mental. Hoje, integra uma turma ativa que pode praticar yoga até quatro vezes por semana no clube. Para ela, estar no Ipê diariamente, cercada de amigos, é essencial para sua saúde mental e emocional. “O Ipê sempre foi o quintal da minha casa. É muito mais que um clube, é uma família.”

Lenira Falsetti Pereira Joaquim, de 79 anos, também associada, enfatiza o alívio que o clube proporciona. “Você tem a convivência, você conversa muitos assuntos, dá muita risada. Às vezes, muita brincadeira que sai. E isso daí faz bem. A cabeça alivia um pouco, aquele dia a dia mais pesado. Alivia bem. É tipo uma terapia”. Ela, que sempre foi esportista, destaca como a musculação, a cada dia, a faz sentir-se melhor, mesmo com a preguiça inicial. Lenira sente falta do clube quando não vai, tanto pela atividade quanto pelo convívio com as amigas de longa data. Ela relembra com carinho os jantares de casais e as viagens com as amigas, momentos de intensa socialização e alegria que marcaram sua vida no clube. “Eu acho que a melhor coisa que tem é você ter um lugar assim pra ir”, conclui.

Lenira ainda se recorda dos animados carnavais, quando seu bloco, “Nuvem Passageira”, parava o clube com suas fantasias elaboradas e a energia contagiante.

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